Diário de ocupação- O dia em que fechamos os portões (relato)

  Depois de muita conversa, por motivos de segurança e funcionamento, fechamos os portões. Agora só entra aqui quem for a favor da ocupação, quem estiver do nosso lado. Para que não aconteçam mais barbáries como a que vou lhe contar.
 É com muito pesar que hoje venho lhes falar. Como ajudante do Grêmio Estudantil, tenho participado de muitas das reuniões, tal como da ocupação, com mais afinco; tenho percebido de perto o esforço de todos os integrantes deste, a persistência, a vontade de lutar, o esforço, diferentemente de muitos que estão a julgar, sem base em fato algum, com argumentos infundados e mentirosos. Desde que comecei a apoiar a ocupação, fui chamada de muitas formas, de vagabunda, de desocupada, de má aluna, mal educada e coisas piores, fui chamada de muitos nomes, por pessoas que nem me conheciam, esses xingamentos não condizem com a verdade. Porque são apenas opiniões, pré-conceitos, jamais argumentos ou verdade universal. Em nenhum momento nós, estudantes, partimos para a violência, em nenhum momento sequer alteramos o tom de voz, tudo por nós seria resolvido com base no diálogo e foi, pelo menos na parte que nos toca. Ainda assim, fomos xingados, fomos agredidos, fomos lesionados. Um senhor furioso adentrou a escola, armado com uma barra de ferro e correntes na mão, como portador de toda verdade do mundo, apontou dedos, xingou, berrou o mais alto que pode, para mostrar que se sobressaía; fitou nos olhos de todos, partiu para cima de alguns, agrediu a professora, bateu em um dos alunos, continuou, até que desistimos de qualquer conversa, queríamos apenas fechar os portões; ligamos para a polícia, ela não vinha, não chegava, nunca; lesionado, por uma barra de ferro e correntes que alternaram ao lhe bater, um de nossos melhores alunos e integrante do Grêmio, juntamente com todos ali presentes, ficaram sem chão. Esse senhor que se dizia "pessoa de bem", diferentemente de nós, que éramos apenas "maus alunos"- segundo ele, nos fez repensar sobre o que seria uma pessoa de bem. Seria aquela que julga? Que não argumenta, pela falta de argumentos e xinga, como forma de resposta? Que repete discursos de outros, como única verdade, sem procurar saber mais? Que é violento, agride, ameaça, lesiona? Aquele que parte para cima de uma mulher, arranca-lhe o celular das mãos e ameaça-a descaradamente? Aquele que sem motivo algum, bate em um aluno, xinga-o, sem nem conhecê-lo? Será mesmo que os irresponsáveis somos nós, os adolescentes? Será mesmo que somos tão errados? Por querermos uma educação melhor, por querermos requirir um direito nosso, uma escola de qualidade e justiça? Seríamos nós os errados? Por querermos conversar, lidar com tudo da forma mais educada o possível? Por favor, antes de tecer uma resposta, uma opinião ou pré-conceito, pergunte-se antes, reflita. Hoje estou aqui não como ajudante do Grêmio, mas como aluna, como filha e como pessoa, não tema a resposta que tiveres ao refletir. 
  E  quanto a nós, continuaremos na luta.

2 comentários:

  1. Parabéns pela ocupação, e que mantenham essa chama de esperança e democracia aqui na serra gaucha :)

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  2. Parabéns moçada! É difícil a luta pela Educação e contra os mal-educados.

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